segunda-feira, 28 de maio de 2007

Idade Média: A Pirâmide Feudal: A vida quotidiana nas terras senhoriais

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A Pirâmide Feudal:

A vida quotidiana nas terras senhoriais

« oratores, bellatores e laboratores, ou seja, os que rezam, os que combatem e os que trabalham (…) Em primeiro lugar, estão os clérigos e mais em especial, os monges (…) cuja função é a oração, que os põe em ligação com o mundo divino e lhes dá um enorme poder espiritual na terra; depois os guerreiros e, nomeadamente, o novo estatuto social dos que combatem a cavalo e que virá a transformar-se numa nova nobreza, a cavalaria, que protege pelas armas as outras classes; finalmente, o mundo do trabalho, representado essencialmente pelos camponeses, cujas condições jurídico-sociais tendem a unificar-se e que, com o produto do trabalho, possibilitam a vida das outras duas classes.»

Jacques Le Goff, O Homem Medieval

Lisboa, Editorial Presença, 1989, p. 15.



A sociedade medieval (século V-XV) era marcada por profundas dualidades e antagonismos. O mundo de então delineava-se a partir da autoridade do Homem rico e a submissão do Homem pobre, entre o privilegiado e o não privilegiado. Por outro lado, as vivências quotidianas e culturais do Homem medieval eram devastadas por conflitos entre o bem e o mal, entre o pecado e a santidade, entre o mundo terreno e o mundo celeste, entre Deus e o Demónio, entre o Cristão e o Sarraceno.

O «povo triplo», estava dividido pelos que oravam, pelos que combatiam e pelos que trabalhavam, isto é, pelo clero, a nobreza e o povo, respectivamente.

O clero, especialmente os monges tinham como principal função orar pelos pecadores, isto é, orar pelo”povo”. Eram eles o elo de ligação entre o mundo terreno e o mundo divino. Dependente da regra da ordem religiosa a que pertencia, o monge estava sujeito a práticas de obediência hierárquica e disciplina no Mosteiro. Busca incessantemente Deus, através da contemplação, do isolamento e da oração. A sua própria salvação eterna e a dos outros é a meta a atingir.

Quanto à nobreza, mais concretamente os guerreiros, vivia entre a paz e a guerra. Tinham a função de proteger, através das armas, os restantes grupos sociais. Recebiam muitos privilégios do Rei. Eram donos de terra, facto que acentuava o seu poderio e riqueza face aos seus dependentes, isto é, os camponeses.

O povo, especialmente os camponeses, constituía noventa por cento da população. Para além de não serem proprietários dependiam inteiramente do seu Senhor. Viviam das actividades produtivas, principalmente da agricultura, privilegiando a cultura de cereais, matéria-prima para o fabrico do pão (base da dieta alimentar da sociedade medieval). No entanto, dadas as técnicas agrícolas estarem pouco desenvolvidas e serem ineficazes, tornava-a pouco produtiva. Por outro lado, a pesada carga fiscal que lhe era imposta pelo Senhorio, bem como, a dependência da Natureza fazia com que o camponês vivesse em constante miséria física e espiritual.

O sistema feudal baseava-se assim, na concessão de terras em troca de serviços, constituindo uma malha apertada que agravava as dependências sociais.

No topo da pirâmide social, estava o rei, o escolhido por Deus para o representar na Terra. O monarca doava terras aos nobres e clérigos mais influentes, passando a ser seus vassalos, os quais juravam obediência e lealdade. Estes, por sua vez, dividiam as suas terras pelos senhores de menor categoria, tornando-se vassalos dos mais influentes.

Este sistema de vassalagem e dependência estendia-se desde o vértice até à base da pirâmide feudal, onde permanecia eternamente o povo.

O senhorio nobre – a Honra – era composto pela aldeia dos camponeses, o castelo do Senhor, as terras aráveis e pela igreja.

Dentro do senhorio, o nobre não só definia os deveres dos seus dependentes, nomeadamente os impostos a cobrar, como também julgava quem não os cumprisse.

O senhorio medieval era igualmente marcado por profundos contrastes, principalmente no que diz respeito à vida quotidiana (tipo de habitações, vestuário, alimentação, entre outros).

É de concluir que, a aparente harmonia e ordem medievais escondia uma sociedade de oposições, antagonismos, desigualdades e injustiças, onde a origem social e hereditária era determinante para definir a qualidade de vida (material e espiritual) do Homem de então.


BIBLIOGRAFIA

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Como se vivia na Idade Média, Colecção O Homem e a História Dossiers, Pergaminho, Lisboa, 2001.

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Guerreiros e Camponeses – os primórdios do crescimento europeu (séc. VII-XII), Colecção Nova História, Editorial Estampa, Lisboa, 1993.

LE GOFF, Jacques – A Civilização do Ocidente Medieval, Colecção Nova História, Editorial Estampa, Lisboa, 1997.

Jacques Le Goff, A Civilização do Ocidente Medieval, Colecção Nova História, Vol. II, Editorial Estampa, Lisboa, 1983, pág. 9

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