segunda-feira, 28 de maio de 2007

Idade Média: A vida quotidiana nos Mosteiros

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A vida quotidiana nos Mosteiros


“ (…) a vida interna do mosteiro e o seu papel assumem, em relação à sociedade, uma dimensão eminentemente de culto e de assistência e a parte reservada à liturgia no dia-a-dia monástico dilata-se (…) O próprio recrutamento monástico, que agora se realiza predominantemente (…) entre rapazes muito novos, encontra nos ofícios a sua motivação especificamente religiosa, porque a oferenda de um filho a um Deus (…) garante aos pais, de uma forma muito especial, uma presença amiga no «santo colégio» dos monges e, por conseguinte, uma relação privilegiada de oração e de sufrágios.”

Giovanni Miccoli , “Os Monges”,

in O Homem Medieval de Jacques Le Goff,

Lisboa, Editorial Presença, 1989, p. 45.

A Igreja Católica constituía o alicerce mais profundo e estável do mundo medieval (século V-XV).

Com uma organização própria (leis, bens e tributos) dirigia os desígnios dos Homens (ricos e pobres), uma vez que tinha um papel activo nas suas vidas. O baptismo, o casamento, o enterro, bem como as missas dominicais eram rituais religiosos que marcavam a vida quotidiana e terrena do Homem.

Seguir, os ensinamentos de Cristo, perspectivavam uma vida eterna celeste. Seria essa a recompensa pelos sacrifícios terrestres. Este princípio tornava a Igreja uma instituição com forte poder espiritual e também cultural.

A Igreja não fechara os olhos às dependências e hierarquias, antes pelo contrário. O Papa era visto como a mais alta individualidade da Igreja, uma vez que representava Cristo na Terra.

O clero subdividia-se então em clero regular e secular. Dadas as suas funções relacionadas com o culto religioso, seriam dos poucos que sabiam ler e escrever, como também estavam isentos do pagamento de qualquer tributo. Antes pelo contrário, recebiam inúmeros privilégios do Rei, como também variados benefícios materiais, muitos deles deixados em testamento pelos Senhores (leigos) que ansiavam, desta forma, alcançar mais rapidamente o Paraíso.

Desde cedo, formaram-se por toda a Europa importantes ordens religiosas, que obedeciam à “Regra” a que pertenciam. A ordem de Cluny e Cister foram as mais importantes e com maior projecção na altura.

Os monges que professavam a “Regra” , faziam votos de castidade e pobreza, para além de jurar obediência aos seus superiores. Antes de ingressar definitivamente na ordem religiosa, o monge era enviado para um Mosteiro, onde era “posto à prova”.

Os Mosteiros eram um centro de oração, de trabalho e cultura, administrados por um abade ou uma abadessa, caso se tratasse de um Convento.

Ao «instituir uma escola do Serviço do Senhor» (Regra de S. Bento), o Mosteiro tornar-se-ia num foco de espiritualidade, a partir do qual se proporcionava o desenvolvimento do ensino, especialmente das Universidades, e a produção manuscrita dos Textos Sagrados.

Durante a Idade Média, o livro era visto como um tesouro, quer pela sua raridade, quer pelos materiais utilizados na sua concepção, como também pela própria mensagem que continha. Eram profusamente decorados com coloridas e muito pedagógicas iluminuras, que ilustravam o texto escrito. O livro, enquanto instrumento doutrinal, de oração, ou de poder (para quem o possuía) estava ao dispor de uma parte ínfima da sociedade.

Paralelamente, o Mosteiro era um ponto de passagem de muitos peregrinos que, num acto de penitência para se punir dos pecados ou para pedir /pagar uma graça percorriam (a pé) longas distâncias por toda a Europa até chegarem a um dos mais importantes centros de peregrinação da Europa medieval – Santiago de Compostela. Eram nos Mosteiros que o peregrino ou o conjunto de peregrinos podiam encontrar assistência aos males do corpo e do espírito (banhos, comida, cuidados médicos, assistência a moribundos).

Ao longo da peregrinação, as igrejas ou Sés eram pontos de paragem obrigatória, onde o peregrino venerava as relíquias de um Santo, ao mesmo tempo que tinham “lições” de catequese e doutrina cristã através das esculturas, vitrais, frescos, retábulos, tímpanos, gárgulas, que proliferam pela casa de Deus. O medo do inferno e a esperança de uma vida eterna guiavam o peregrino, numa atitude de penitência, que deveria ser permanente, ao longo de toda a sua vida.

Neste sentido, o Mosteiro «…é uma cidade santa», pura de pecado e por isso, uma antevisão terrena do Paraíso.


BIBLIOGRAFIA

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O Tempo das Catedrais, Colecção Nova História, Editorial Estampa, Lisboa, 1993.

Guerreiros e Camponeses – os primórdios do crescimento europeu (séc. VII-XII), Colecção Nova História, Editorial Estampa, Lisboa, 1993.

LE GOFF, Jacques – A Civilização do Ocidente Medieval, Colecção Nova História, Editorial Estampa, Lisboa, 1997.

Jacques Le Goff, O Homem Medieval, Editorial Presença, Lisboa, 1990, pág. 16.


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